quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sobre o olfato

Sim, de fato, eu não tenho olfato.
Não sei onde foi que ele perdeu-se de mim ou se fui eu que me perdi dele.
Só sei que, não sei onde, meu olfato está perdido.
Este malandrinho deve estar a confabular com milhares de botões de camisa, guarda-chuvas e alfinetes que encontrou, também perdidos, por aí...
Só me dei conta do sumiço dele há mais ou menos uns 6 anos.
De lá pra cá, foram 6 anos dos mais diversos tratamentos que nunca trouxeram de volta o cheiro da dama da noite plantada em meu quintal, do melancólico aroma da terra após ser banhada pela chuva ou da suculenta carne de panela forrada de rodelas de cebola feita pela minha mãe.
Por fim, acabei me acostumando, mas não me conformando.
É tão particular o que acontece comigo, que talvez expressando em palavras pode parecer que estou beirando a loucura (e talvez esteja mesmo...)
Sabe o que acontece? A minha cabeça às vezes parece querer me agradar e inventa cheiros pros sabores que eu sinto, cheiros pras cores que eu vejo...
E é sempre assim, me satisfaço, agradeço a benevolência e ela então dissipa a invenção, deixando apenas uma dúvida plantada bem no meio da minha testa: senti ou não?
Uma vez, minha cabeça inventou o cheiro de uma maçã adocicada que comi... Mmm!
Outra vez, inventou o cheiro de sabonete de um amigo que veio me abraçar após ter acabado de sair do banho! Foi tão gostoso!
Minha cabeça já inventou até cheiro de bacalhau no supermercado! hahaha
E teve uma vez...
Bem, teve uma vez que ela inventou o cheiro de um amor!
Este aroma meio-amargo ficou grudado na minha roupa e me seguiu até em casa...
Tomei banho e não saiu.
Meses se passaram... E ele ainda ali.
Mas eu nem me importava! Queria sentir mais e mais daquele perfume envolvente...
Por fim, a história acabou...
Mas, curiosamente, aquele cheiro não passou. Nem a dúvida: Senti ou não senti?
Será que nada disso existiu?

(Esta minha cabeça é tão criativa, não entendo como ela ainda não conseguiu inventar um meio de tirar esse cheiro que até hoje não saiu do meu travesseiro...)

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