terça-feira, 20 de julho de 2010

Sobrevoar

Ele é citado direta e indiretamente em diversos poemas, frases, músicas, pinturas, rodinhas de prosa, brincadeiras pueris...
É a imagem móvel da eternidade imóvel, para Platão.
Ele passa e o homem não percebe, segundo Dante Alighieri.
É mano velho, segundo Fernanda Takai.
É o seu melhor amigo, segundo Carlos Drummond de Andrade.
É eterno para os que amam, segundo Shakespeare.
São compassos desafiadores, para Mike Portnoy.
É mole e derretido, numa visão de Dali.
Não para, disse Cazuza.
Ele não cura tudo. Aliás, não cura nada, apenas tira o incurável do centro das atenções, segundo Martha Medeiros.
Nas asas dele, a tristeza voa, segundo La Fontaine.
Quem o mata não é assassino e sim um suicida, para Millôr Fernandes.

Este danando é justamente o que estou perdendo (ou ganhando?) agora.
Ele está passando... (Ou será que está ficando?)
Corro contra ele, preciso dele.
Conto, reconto, calculo.
Sofro, esqueço...
Ele acalenta minhas dores, remexe meus anseios, muda minhas idéias, minhas metas, alimenta minhas dúvidas, aumenta minhas dívidas...
Perfura e cicatriza.
Me faz amar.
Me faz enjoar.
Me faz enojar.
Me injeta saudades.
Me faz amar de novo.

Este danado é o tempo.

Há 24 anos convidei-o para um duelo mortal, e sabe o que ele me disse?

- Filha minha, escute esta graça:
Nesta vida passageira, tudo, mas tudo mesmo passa.
A febre, a lebre, o lamento e o juramento.
Com força e leveza, passa o sopro do vento.
Passa a uva, passa o ferro...
Passa até aquela pedra... Aquela, que tinha no meio do caminho!
Por fim, "eles passarão. Eu passarinho!"

Desde então, sinto-me transitória.
De fato, estou Kelly, e isso também passa...



(rinho...)

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